Sonho muito, principalmente quando durmo. Raramente me lembro dos sonhos bons - quero acreditar que os tenho! Os maus sei-os de cor. Tirando um ou outro, a trama é sempre a mesma. Varia o elenco. São sempre os que amo a estarem lá. São sempre os que amo aqueles que perco. Não caem de um penhasco como nos filmes de domingo à tarde. É uma doença que os leva. Ou então é alguém que lhes faz mal. Nunca estou lá quando morrem. Nunca ninguém me dá a notícia da sua morte. Têm conversas e dizem uns aos outros que talvez seja melhor eu não saber, que sou demasiado dependente dos que amo. Descubro sempre e assisto ao funeral escondida. Inevitavelmente sento-me no último banco da igreja e sussurro o que gostaria de lhes ter dito um dia. Sei de cor o que digo a cada um dos que me morrem em sonhos.

Quando tinha 7 anos descobri pelos outros meninos da escola que o meu pai tinha sido esfaqueado à porta de casa. Descobri também tempos mais tarde que aquele episódio não foi um assalto sem alvo - o meu pai era o alvo e o objectivo não era um assalto. Aquilo que foi uma realidade um dia, nunca conversada, passou rapidamente a ser metáfora sonhada até hoje.

Sempre que tenho saudades de alguém, morrem-me à noite quando fecho os olhos. Na manhã seguinte com frequência envio-lhes uma mensagem só com um bom dia, um email com um poema, apareço-lhes para lhes dar um beijo. Mal sabem eles que estão constantemente a morrer-me. Então ultimamente... 

Nunca contei isto a ninguém, achar-me-iam demasiado tonta, se é que já não me acham.

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