Por vezes invejo aqueles que sempre desde pequeninos quiseram ser aquilo que são hoje. Invejo-os pelo sentimento de missão cumprida, pelo contentamento de se saberem capazes do que sonham e pela esperança e confiança que têm no seu passado. Invejo-os apenas temporariamente, porque acredito que pouco ou nada poderá ser tão frutuoso como a perda de rumo e o recomeço. Isto, inevitavelmente, dá-me uma noção de tempo perigosa - a de que estou sempre a tempo, de que é sempre tempo de tudo ou então que nada tem um tempo destinado. Não adio. Não acredito nas grandes renúncias ao presente pelo futuro. Não sei sonhar ser um dia. É curioso, porque se há memória que não tenho é a resposta que dava à fatídica pergunta "o que queres ser quando fores grande?". Não me lembro mesmo, talvez porque nenhuma tenha sido verdadeira. Não é pura coincidência. 

Comentários