Íamos para Moçambique e ficaríamos por um mês. Chegou ao aeroporto apenas com uma mochila. Ainda hoje o momento é recordado pela minha mãe como uma inconsciência ou um protótipo de desmazelo, para mim ficou-me gravado como um dos mais magistrais ensinamentos. De tal maneira, que quando fui para Timor, tudo o que era meu, para a minha sobrevivência e comodismo, seguiu na minha mochila vermelha, a de todos os dias e de todos os lugares, com a excepção dos vulgares "líquidos" que não nos permitem o desapego total da mala de porão. Coube tudo, nada faltou. Aprendi naquele aeroporto que vamos aprendendo e  determinando ao longo da vida o que nos faz falta e que essa é uma responsabilidade puramente nossa. Não se trata de viver com pouco, mas de vagar lugar para o essencial. Trata-se de nos tornarmos mais corpo com alma. Trata-se de chegar e nos permitirmos vestir para servir, para viver, para viver até ao fim.

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