Em poucos dias conheci-lhe mais medos e fragilidades que nestes anos todos em que nos dizemos amigas. Bastou partilharmos uma casa. Conhecemos, percebemos e compreendemos tanto se olharmos. Basta olhar, sem julgar ou questionar os porquês de cada gesto ou de cada escolha. Bastou olhar para as primeiras coisas que fez ou disse pela manhã, pela forma como encarou o caminho e as paisagens novas, pela forma como se impacientou em cada espera tão cheia de tempo e de espaço para se ser feliz.
Sempre soube da sua "necessidade de grupo", que não gosta de conversas a dois, bem lá no fundo sabe ela e sei eu que tem um medo medonho que lhe vejam a alma em alta definição. Não sabia contudo que ela própria se negava ao confronto do eu com o eu, que conscientemente vive cheia de artimanhas e de artifícios para não se ouvir, que evita a todo o custo o silêncio, a ausência do toque de um nova mensagem a cair no telemóvel e a falta de planos para cada minuto dos dias seguintes. 
Para mim, que já vivi nessa redoma, foi aflitiva a constatação. Desaprendi como é possível viver-se assim com os pés tão calçados. Que bênção tão grande!

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